JOÃO EUFRÁSIO DE FIGUEREDO – DADOS BIOGRÁFICOS – Parte II

publicado em:20/03/18 1:52 PM por: Jurandir Figueiredo Gente da TerraHistórias e Fatos

Quarta-Feira, 04 de Abril de 2007

IMARUÍ
Após alguns anos, a empresa transferiu-o para a Cooperativa mantida pela própria firma, na Ponta dos Martins, no município de Imaruí, fato que determinou sua independência familiar e ele lá foi trabalhar como caixeiro. Ficaria conhecido na região como João Caixeiro.

Ali a empresa mantinha um moinho de beneficiamento de arroz e uma Venda que funcionava como uma espécie de cooperativa, instalada para atender seus empregados que trabalhavam numa extensa plantação de arroz à margem do Rio D’Una. Mas a Venda também atendia aos moradores da região, sobressaindo-se o princípio da troca, ou seja, o produtor entregava o produto de sua lavoura em troca de mercadorias da firma; estas geralmente supervalorizadas, como sal, açúcar, querosene e fumo. Os que trabalhavam na plantação de arroz eram também remunerados com produtos da Venda de tal maneira que praticamente não circulava dinheiro. Mas, apesar da escassez, João conseguiu economizar algum dinheiro do seu parco salário e realizar um sonho que acalentava desde criança: comprou um dos cavalos mais viçosos e os melhores aperos de montaria, encomendados a um viajante da Serra. Assim, aos domingos, desfilava garboso para a missa. Ora no Mirim, ora na igreja do Imaruí. E, quando a folga lhe permitia, dava um giro até o Ribeirão para rever seus pais e prestar-lhes algum auxílio.

Era uma época em que inexistiam automóveis, nem mesmo estradas. O transporte se processava através de canoa, carro de boi e principalmente montaria.

Cumprindo seu destino, João Caixeiro fixou-se na Ponta dos Martins e aí tocava sua vida, dedicando-se à empresa e relacionando-se mais e mais com seus fregueses.

Com o passar do tempo, chamou-lhe a atenção uma jovem que morava ali próximo, que acompanhava seu pai nas negociações dele com a Cooperativa, onde o Caixeiro trabalhava. Chamava-se Maria Pires de Carvalho e toda vez que ela chegava à Venda, por vezes acompanhada de sua única irmã, Custódia, João as atendia com especial dedicação. Atenção especial era dispensada também ao pai de Maria, o viúvo João Aleixo de Carvalho, pessoa de relativo destaque social, antigo freguês e também fornecedor à empresa Martins. Era proprietário de engenho de farinha e de açúcar além de possuir alambique, pomar de laranja e banana, e também um campo onde mantinha alguma rês.

João Aleixo, também conhecido como João da Ponta, enviuvou cedo, pois sua esposa Edviges Pires de Carvalho, falecera com apenas 22 anos de idade, deixando órfãs as duas meninas: Maria, com sete anos de idade, e Custódia, com apenas três anos. O óbito dela ocorreu pelo vírus influenza, causador da Gripe Espanhola que surgiu no fim da Primeira Guerra Mundial. A epidemia chegou ao Brasil em setembro de 1918. Dois meses depois, já havia se alastrado por todo o país. Em apenas um mês, só no Rio de Janeiro, havia causado a morte cerca de 15 mil pessoas. Entre as vítimas estava o presidente da República, Rodrigues Alves. Embora não haja documento comprobatório, supõe-se que a morte de Edwiges tenha ocorrido em novembro do ano de 1918, época do pico de mortes na região.

Segundo rígido costume da época, era necessário autorização dos pais da moça para iniciar namoro, o que não constituiu obstáculo para João, já conhecido do pai de Maria; tinha a garantia de um emprego fixo e era muito trabalhador. Assim, pelos idos de 1925, o Caixeiro encheu-se de coragem e foi à casa de João Aleixo. De lá retornou satisfeito, porque autorizado para iniciar seu namoro com a jovem Maria. Em dia de namoro, ele montava seu cavalo tordilho e nem se dava ao trabalho de abrir a porteira da propriedade. À distância punha o cavalo a galope que saltava a porteira e continuava a corrida até a morada.

Após um curto namoro, João Caixeiro, então com 24 de idade e Maria com 15, casaram-se no distrito de Mirim, município de Laguna, em 05 de junho de 1926. Foram testemunhas do ato civil, Pedro Manoel Pereira e Divo Pereira Martins. A festa de núpcias foi comemorada por todos os moradores da região, inclusive alguns filhos e netos de escravos libertos que residiam pela vizinhança e que prestavam serviços eventuais no engenho. Às festividades compareceram os pais do noivo, Eufrázio Manoel e Joana Fortulina e ainda o irmão do noivo, Jorge Eufrázio.

E é este que conta que foi uma das maiores festas em que ele participara. Durou dois dias. À noite, os convidados mais próximos foram dormir na Casa Grande, enquanto os demais, ele inclusive, foram pernoitar num galpão junto ao engenho. Disse ainda ter-se surpreendido ao ver tantos negros, já que na sua terra natal eram muito raros. Mais surpreendido ainda ao perceber que quando uma criança negra chorava, durante a noite, qualquer mulher lhe dava de mamar. Não necessariamente a própria mãe, de vez que viu uma delas dar o peito a mais de uma criança que chorava.

Depois do casamento, foram morar na casa grande, e, além dos serviços na Cooperativa, o Caixeiro auxiliava seu sogro na lavoura.

Mas o destino preparara outro golpe à família. Passado apenas um ano do casamento, João Aleixo foi acometido de uma cardiopatia grave. Poucos meses depois de muito sofrer com queixa de dores horríveis, “como um fuso de engenho a comprimir-lhe continuamente o peito”, ele viria a falecer sentado durante um almoço festivo, no ano de 1927.

Aí mesmo, na casa grande, na localidade de Ponta dos Martins, nasceram os primeiros de muito filhos de João e Maria: Nilza, em 1927, Nelson, em 1929, Nereu, em 1930 e Nézio, em 1933.

Outro revés se abateria sobre a família. Desta feita, o Moinho dos Martins e a cooperativa fechavam suas portas e João viu-se, de um momento para outro, desempregado. Diante disso, tentou de todas as formas tocar o engenho como forma de sustentar a família. Mas as dificuldades eram muitas: a escassa mão-de-obra na localidade, somada a infertilidade do solo e conseqüente baixa produtividade agrícola, – basicamente, a mandioca e cana de açúcar -, e ainda a escassez de dinheiro em toda a região, agora agravada pelo fechamento da firma, representavam fatores impossíveis de serem vencidos.

Assim, o engenho não ia bem, como também a lavoura que ele, teimosamente, insistia em tocar.

Enviado por: Seu Filho Geraldo Figueredo



A última modificação foi feita em:março 11th, 2019 as 11:55 PM


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