Custódia Alves de Figueiredo

publicado em:20/03/18 6:18 PM por: Jurandir Figueiredo Gente da TerraHistórias e Fatos

Terça-Feira, 15 de Janeiro de 2008 | 6 comentários

CUSTÓDIA ALVES DE FIGUEIREDO – Nascida em Ribeirão Pequeno, antigo São Braz, em 24 de dezembro de 1901 e falecida no Hospital Regional de São José (Hospital Dr. Homero de Miranda Gomes), em São José/SC, em 29 de novembro de 1994. Era a única filha mulher de José Cândido Alves e Anna José de Oliveira.
Era casada com Eloy Figueiredo, tendo desta união dez filhos.
Toda, como era conhecida, chamava a atenção por ser uma mulher muito bonita e pelos cuidados pessoais que tinha e ainda, principalmente, na elegância em se vestir, mesmo depois na velhice. Em sua mocidade foi, talvez, a jovem mais bonita de Ribeirão Pequeno. Dado estes predicados, Canuto Menezes (Vidoca), importante carnavalesco e compositor ribeironense, sempre a requisitava para que participasse dos cordões carnavalescos.
Como Toda morava no morro, onde ficava a residência de seus pais e o morro do Ribeirão Pequeno, convencionou-se a chamar “Lá de Cima” , ela puxava o cordão carnavalesco, cantando:
“Nós viemos Lá de Cima
Com toda pompa de cordão
Para desfilar no clube
Ai! No Clube do Ribeirão!
O que será, o que será
Da minha vida neste carnaval…”

No final da década de cinqüenta, o famoso compositor e cantor Pedro Raymundo, conhecido nacionalmente, ao ser apresentado à filha da Toda, Anaclara, disse o seguinte : “Você é muito bonita, mas sua beleza não chega nem nos pés de sua mãe, quando ela era jovem!”.

Existe um historiador e pesquisador lagunense que concluiu, em pesquisas realizadas, que a famosa composição musical de Pedro Raymundo, “Saudades de Laguna”, foi inspirada numa jovem muito bonita de Ribeirão Pequeno e que seria a Toda.
Ela também se notabilizou na facilidade de memorizar qualquer tema, acontecimento ou história. Inclusive, eu possuo uma gravação em CD, onde eu e meus irmãos Antônio, Luiz (Sueco) e Anaclara, fizemos uma entrevista com ela, e, mesmo com a avançada idade de noventa anos, narrava-nos, de improviso, com os mínimos detalhes, toda sua vida, desde tenra infância. Na oportunidade, ela nos relatou que existiam, em Ribeirão Pequeno, dois irmãos que eram compadres e moravam juntos, já que os pais haviam falecido, sendo um casado e o outro solteiro, sendo que este último foi acometido de tuberculose, doença gravíssima, à época. O irmão casado, então, levou o enfermo para o hospital em Laguna e lá o internou. No entanto, o irmão, que fez a internação, desinteressou-se pelo doente e nunca mais retornou ao hospital para visitá-lo, negando-lhe, talvez, o melhor remédio que seria o apoio, carinho e afeto. Ele, esperançoso que avistasse a canoa do irmão chegando, sempre olhando da janela do hospital em direção ao Ribeirão Pequeno, escreveu a seguinte décima, a qual nossa mãe, Toda, declamou de cor, a qual transcrevo na íntegra a seguir:

“Compadre, irmão e amigo
Vou lhe mandar perguntar
Por quais os motivos
Que não tem vindo até cá
Se é alguma novidade
Mande me dizer de lá

Eu lhe mandei um recado
Sei que o senhor recebeu
Eu cá fiquei esperando
E o senhor não apareceu
Mas, Deus não há de faltar
Com aquilo que prometeu

Todo dia de manhã
Eu já vinha pra quartela
Pedia aos companheiros
Para abrirem uma janela
Para ver se eu enxergava
Canoa no mar à vela

Quando avistava canoa
Que vinha do Ribeirão
Meus companheiros diziam
De certo é seu irmão
Eu ficava satisfeito
E me alegrava o coração

Todo dia de manhã
Eu pedia pro criado
Pra me fazer um favor
Quando fosse no mercado
Que encontrasse um portador
Pra mim mandar um recado

Eu lhe mandava pedir
Para o senhor me visitar
Para um canto da sua casa
Se o senhor quisesse dar
Porque se Deus me ajudasse
Eu tinha fé de melhorar

Você me dava o que comia
Do resto que lhe sobrava
E eu satisfeito ficava
E com isso me alimentava
Até que chegasse o tempo
Que Deus me determinava

Se eu tivesse os meus pais vivos
Outros galos me cantavam
Apesar que fosse longe
Minha mãe me visitava
Sempre tinha aquele encosto
Sua sombra me amparava.”

Da mesma forma, nesta mesma entrevista, nossa mãe nos surpreendeu mais ainda, quando começou a cantar o hino do então time de futebol de Ribeirão Pequeno, o Riachuelo Futebol Clube:
“ Caminharemos constantes para luta
Adversário ser forte não assusta
Jogar pelota é coisa que menos custa
Riachuelo será sempre o batuta

Alegres disputaremos
O valor de nossas forças
Unidos seremos fortes
E não haverá quem nos torça

Nosso clube é esportivo
Fundado só para a glória
E no campo de batalha
Ganharemos, ganharemos
Ganharemos a vitória

E sem paixão
Sempre contentes
Os corações
Sempre fortes, resistentes
Canto alegre esta canção”.

Quero ressaltar que esses dois tópicos, ou seja, tanto a Décima, como o hino, eu já tinha publicado no livro de minha autoria, A Historia Que Vivenciei.

Falar sobre as qualidades de Custódia Alves Figueiredo, minha saudosa e sempre adorada mãe, seria suspeição de minha parte, contudo não poderia deixar de ressaltar sua personalidade, resumindo no seguinte:

Sua formosura interior foi tão marcante que ultrapassou o bloqueio formado pela matéria e ao associar-se a estética de seu bonito semblante, formou nos 93 anos de vida, um bloco coeso alicerçado pelo tripé do amor, candura e beleza.
Já, meu saudoso e querido irmão Antônio, referindo-se a nossa mãe, fez o seguinte texto poético:

“ De Vênus herdastes a beleza
No olhar a candura de Maria
Vias nos filhos a maior riqueza
E a Deus as preces que fazias

Quantas noites mal dormidas
Acordada tu rezavas
Só te tranqüilizavas
Se o último filho à casa retornava

Como era linda nossa mãe
Despida de toda maldade
Cândida como uma santa
Era um poço de bondade

Aquela imagem sagrada
Um dia desapareceu
E aquele calor humano
Nunca mais nos aqueceu

Aquela santa mulher
Os anjos para Deus a levaram
Não vimos mais nossa mãe
Só as saudades ficaram”.

Enviado por: Manoel Ananias Figueiredo

Comentários
1 – Eloi Jose Figueiredo Neto 02/07/2008
Muito emocionante! Após esta leitura a saudade de minha avó é grande, no qual relembro os momentos sentados na varanda de sua casa, escutando as histórias contadas por ela com muita simplicidade e com muita sabedoria! Obrigado.

2 – Maryah dos Santos Figueiredo 21/07/2008
Mesmo sendo pequena quando a vó Toda faleceu, tenho sua imagem guardada comigo até hoje.

3 – Yuri Munir Igor Alves Guimarães Figueiredo 31/07/2008
Só boas lembranças…Quando chegava as férias ficava na casa da vó e a única coisa ruim é que de tanto aproveitar seu carinho,sua preocupação e seu amor as férias terminavam. Mas no ano seguinte era a mesma coisa e na caderneta da padaria aparecia umas despesa extras( bolachão de araruta,banana recheada etc).Que paz nos transmitia.Que sorriso gostoso!Saudades!

4 – Beatriz dos Santos Figueiredo 07/08/2008
A minha bisavó Toda era uma senhora sábia. Os meus pais me falam um ditado que a bisa sempre repetia. “O que é pouco parece bem. O que é demais aborrece.”

5 – Valeska Figueiredo 27/08/2008
A vó Toda era uma pessoa incrível, cheia de vida e alegre. Fazia questão de nos ensinar que o importante é ser feliz, é aproveitar cada momento intensamente. Seus conselhos para mim eram: se divirta bastante, namore muito, dance nos bailes, viage por aí. Recordo-me de algumas viagens que fizemos juntas com meu pai, ela com seus 90 anos experimentando o que a vida tem de melhor. Adorava as coisas boas da vida: as frutas, as festas, a família, os amigos, as orações. Não dava bola ao azar e era uma legítima professora cuja disciplina ministrada era “vida”, ensinava como viver de maneira plena. Ao falar dela, sei que cito excessivamente a palavra vida, mas é o que resume a vó Toda para mim. E este ensinamento trago comigo e procuro aplicar em cada instante da minha própria história.

6 – mauricio 21/11/2009
“”O fato curioso é que para Butiá/RS, ele saiu de Ribeirão Pequeno a pé, até aquela cidade gaúcha, tendo levado alguns dias de viagem.””O amor por butiá é histórico





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